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RUGIDOS E GRUNHIDOS - WILL OF THE PEOPLE: MUSE FAZ POLÍTICA PARA LEIGOS DE ESTÁDIO

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Com divulgação fraquíssima, uma das minhas bandas favoritas traz um trabalho inédito desde o último trabalho frenético e eletrônico "Simulation Theory". Agora é a vez de "Will Of The People", o álbum com promessa de ter um som mais pesado, que de acordo com as palavras do vocalista Matt Bellamy, "...vai do metal até o pop" e que até o classificou como "nosso melhor álbum". Acompanho Muse desde 2011 e, apesar da familiaridade sonora com o novo álbum, muita coisa mudou de lá pra cá nesses 11 anos.


Will Of The People não tem suspense algum, é música na lata, bem diferente do que Muse costumava fazer no passado. Desde o último trabalho, Muse tem adotado uma postura ainda mais ostensiva do que antes, mesmo com a turnê já visualmente estourada de Drones Tour. Tudo isso pode soar muito cativante, mas não é pra tanto. O suspense melódico em faixas mais introspectivas ou que valorizem mais o instrumental colaboram para a estrutura do álbum e reforçam mensagens, quando elas existem, algo que acontecia muito no álbum "Origin of Symmetry", por exemplo. Aqui não há surpresa alguma, todas as músicas no geral adotam o padrão estrofe, ponte e refrão, sem dó. É o raio "popetizador" dentro do rock alternativo.


O álbum abre com a música de mesmo nome, "Will Of The People", que soa estranhamente similar a "Beautiful People" de Marilyn Manson, mas mais "alegrinha e cristã". Inicia com tom de protesto e, com certeza, é a famosa canção de estádio pra todos cantarem com braços pro alto. "Compliance" prossegue com sintetizadores oitentistas em uma letra semi-anarquista, levando ao momento "Queen" do álbum, "Liberation", a canção que faz o protesto de vocal mais angelical. É uma união estranha escutar o coro ao estilo "Queen" trazendo palavras de revolta, não deixa de ser interessante, vale a pena ouvir até o final. "Won't Stand Down" é a próxima e que foi o primeiro single do álbum. Essa sim com instrumental um pouco mais pesado que o restante, mas não vamos exagerar, não é nada que já não tenhamos visto em outros álbuns em níveis bem maiores. "Ghosts (How Can I Move On)" é uma balada ao piano, melodicamente linda, mas talvez um pouco repetitiva, o que tira seus sentimentos, e passa para a divertida e estranha "You Make Me Feel Like It's Halloween" mixada com um misto de órgão e sintetizadores, com certeza um destaque do álbum por sua diferença entre as outras. "Kill or Be Killed" poderia estar em Drones junto com "Won't Stand Down", talvez até sendo canções descartadas na época. Tem muita guitarra e bateria nas faixas, e é uma das melhores, talvez sendo a que possui instrumental mais desenvolvido no álbum. "Verona", a segunda e última balada, pode ser romântica e sensual pelo som, mas a letra só mostra mais uma música de amor previsível. "Euphoria" é um auto plágio sonoro da banda. Lembra muito a melodia de "Mercy" do álbum "Drones", porém mais acelerada e, novamente, "alegrinha". "We Are Fucking Fucked" fecha o álbum com som interessante e com o retorno dos vocais em coro. Assim como seu início, o final não tem mistério, acaba quando acabar.


Muitas considerações, mas... o que é deixado após a audição? Cheguei a ler algumas críticas exaltando o tom de protesto político e classificando o som como mais "heavy metal" no álbum, e sinto dizer que tudo isso só impressiona quem não conhece a banda. Muse já fez álbuns muito mais pesados, tanto na parte sonora quanto nas letras. "Origin of Symmetry", "Absolution", "The Resistance" e "Drones" são exemplos desses álbuns. Um gritinho na música não é sinônimo de heavy metal, e se coro de plateia for protesto então Coldplay é o novo The Clash. Aqui temos um Muse que se modificou por um simples motivo: engajar os jovens que tenham "sentimento rebelde" que compram seus álbuns e assistem seus clipes.


Muse já tinha iniciado uma infantilização das suas letras no álbum de 2018, mas não achei que isso se estenderia até aqui, já que o álbum em questão tinha uma proposta diferente, muito mais pop e solta do que o esperado para "Will of The People". O álbum soa como um conjunto de músicas descartadas de outros álbuns. O vocalista explicou que o objetivo era um álbum "greatest hits com músicas inéditas" que remetesse à sonoridade de todos os álbuns num geral, o problema é que as letras são repetitivas, fracas e a sonoridade nada complexa.


O que sempre me atraiu na banda nesses anos era o conjunto entre instrumental eletrônico com rock bem balanceado e pequenas doses de música clássica, vocais insanos que Matt sabe fazer e faixas não tão fáceis de digerir de primeira. Aqui temos algumas letras que soam bobas, e claramente uma tentativa de ser relevante para os ouvintes mais jovens. "You Make Me Feel Like It's Halloween", por exemplo, é interessante e estranha, mas.. a letra é a parte mais estranha. É muito vazio, é algo que qualquer banda de rock pop faria. Ao tentar homenagear a própria identidade, Muse esquece seu próprio estilo.


Espero abrir os ouvidos de novos ouvintes ou quebrar o coração dos fãs antigos da banda. Eu sou um grande amante de Muse, tenho vários de seus álbuns físicos, mas esse é uma amostra muito fraca do que a banda é. De política aqui temos apenas citações. O tom do álbum é de protesto, mas as letras apenas citam políticas, citam fatos. Derretimento das calotas, desmatamento, controle pelo governo.. é um grito jovem. É política para leigos colocar um monte de expressões nas letras, sem um conceito ou teor maior. É gritar e reclamar. Para os adultos, acredito que isso não impressione. A pergunta que fica é.. Muse está criando música para os adultos? Álbum razoável, comparando ao que a banda já criou.




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