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RUGIDOS E GRUNHIDOS- LANA DEL REY: RELIGIÃO, FAMÍLIA, TRAIÇÕES, E O NONO ÁLBUM!

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Lana Del Rey já está por aí nessa indústria faz alguns anos, e ganhou um sucesso retumbante e duradouro, após o polêmico e diferentão "Born To Die", de 2012. 11 anos depois, estamos aqui com nada menos do que o 9º álbum dessa cantora e compositora fascinante. 9 álbuns nesse período é uma corrida realmente atípica, que vemos em pouquíssimas discografias, mas que Lana faz com muita maestria. A revista Rolling Stones definiu Lana esse ano como "maior compositora do século XXI". Apesar disso, a cantora nunca ganhou um Grammy, por exemplo. Em contrapartida, o que fez Lana se manter em alta provavelmente foi sua fidelidade consigo mesma, não se importando com as críticas. Pelas suas próprias palavras, "Definitivamente não sou a pessoa mais preocupada com a validação externa.".


E com isso, chegou até nós na última sexta-feira (24/03) o álbum "Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd". Um álbum com a cara de Lana Del Rey, e com certos toques experimentais muito bem vindos. Continuando com a parceria de produção maravilhosa com Jack Antonoff, que desde "Norman Fucking Rockwell!" tem feito um excelente trabalho, o novo álbum segue a linha similar de qualidade dos álbuns lançados desde 2019.


O tom experimental já começa no início, quase como uma vocalização gospel. Na música que abre o álbum intitulada com o sobrenome de sua família, Lana canta sobre o que é importante na valorização da nossa trajetória, e como irá levar as memórias das pessoas importantes que passam por nós, no caso, de sua família. Porém, o tom não é gospel só no som, como na letra, e o que revelariam as próximas interludes. "Meu pastor me diz que quando você parte tudo o que leva é sua memória", diz a letra de The Grants.


O álbum tem vários versos sobre sua família, saudades, remorsos e lembranças de sua juventude, como pode ser visto em Kintsugi e Fingertips. Mas também temas pesados, como na minha favorita do álbum, A&W. É a canção do caos, onde Lana fala sobre estereótipos, estupro, drogas e mais. A&W, ou "American Whore" é uma canção complexa, que começa de uma forma tensa com pouco instrumental com piano e violão, e evolui para batidas eletrônicas graves e um remix que parece sob o efeito de drogas. Com certeza um dos destaques do álbum.


E claro, temos a esperteza incrível de Lana Del Rey com suas composições subliminares e analogias bem construídas. A música que dá título ao álbum é uma prova disso, uma canção onde Lana utiliza de seu estilo melancólico para cantar sobre desejos (carnais, é claro). "Me abra, me diga que gosta de mim, me f*da até a morte. Me ame até que eu me ame". Muito feliz por Lana continuar muito esperta nas composições. Aos desavisados, pode parecer só uma música romântica quase sem sentido, mas as conotações ao sexo são muito claras. De certa forma, isso eleva também o nível de transparência de Lana como artista. Na canção com um nome gigantesco, Grandfather please stand on the shoulders of my father while he's deep-sea fishing, Lana entoa "Mas tenho boas intenções, mesmo se eu for uma das últimas. Se você não acredita em mim, olhe para a minha poesia ou minhas melodias. Sinta elas em seus ossos. Eu tenho boas intenções, mesmo se eu for uma das últimas". Lana é cada vez mais um livro mais aberto, e isso está diretamente impactando suas produções.


O álbum tem algumas colaborações que são interessantes, a maioria ali na finalização Let The Light In, com Father John Misty, e Margaret, com a banda folk do produtor do álbum, são bem interessantes.


Impossível deixar de comentar o tom mais divertido e experimental que Lana deixou no final do álbum. A trilogia Fishtail, Peppers e Taco Truck X VB trazem batidas diferentes que ficaram muito boas. Fishtail me lembrou a pegada do Lust for Life, um lance quase indo pro trap, com autotune estético. Peppers é uma loucura, a mais diferente do álbum, e talvez de todos os álbuns da Lana. É animada, tem o mesmo tom gangsta de sempre, só que com um remix de um sample de Tommy Genesis, "Angelina". Muito boa. Taco Truck X VB é simplesmente duas em uma, finalizando uma versão da maravilhosa Venice Beach revisitada. Lana se deu a liberdade que poucos artistas se dão de brincar com a própria obra, o final é muito bem formado.


Talvez seja a primeira vez em que Lana toca em temas como a religião. Não se engane, não é uma pegada espiritual. Lana conta sobre memórias, passado, e a melhor maneira de explorar a religião artisticamente.. a culpa. A interlude Judah Smith Interlude traz uma gravação de um sermão sobre desejo, luxúria e traição. Apesar de longo e inesperado, o final complementa a mensagem geral do álbum. Ao final do sermão, o líder religioso clama "Me ajude a querer o que conquistei. Me ajude a amar o que está na minha frente. (...) Eu quero ser um homem apaixonado, não um homem com luxúria. (...) Eu gostaria de pensar que minha pregação foi majoritariamente sobre Você, Eu descobri que a minha pregação é majoritariamente sobre mim.". Tudo isso pra mexer com os ouvintes mais atentos.. o álbum fala sobre a outra ou.. ela é a outra?


No final, temos uma Lana cada vez mais franca em suas canções, e experimentando seu perder seu estilo que, mesmo notando sonoramente diversas referências, se tornou único. Tenho algumas peculiaridades com a Lana. Antes de um álbum lançar, vem os singles (primeiras faixas de promoção), e nossa, eu não consigo ouvir. Parece que pra mim as faixas da Lana só fazem sentido quando escutadas no conjunto da obra. Aí sim, depois posso repetir mil vezes alguma faixa isolada sem enjoar. Isso é parte interessante do que Lana consegue formar nesse conjunto que chamamos de "álbum", e claro, fomentar essa experiência num mundo onde o single importa mais que o álbum em si.


Lana simplesmente está fazendo algo que muitos no mercado há anos não conseguem fazer: evoluir. Sua discografia não é perfeita, mas está cada vez mais madura. Mais um álbum muito bom para a carreira, e esperamos ansiosos para o próximo.




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