Utilizando eventos da vida personificados, Sandman surpreende pelos diálogos espertos, visual caprichado e reflexões do universo complexo de Neil Gaiman.
Sinopse rápida sem spoilers para quem tem pressa (ou não tem Netflix nem os superpoderes de uso de torrents): a história de Sandman é baseada numa coleção de HQs de mesmo nome, de um universo criado por Neil Gaiman, onde Morpheus (Sim, o Sandman) passou por certas circunstâncias que o aprisionaram por mais de um século. Dá pra imaginar como seria a humanidade por mais de 1 século sem sonhos? Sim, Morpheus é o responsável pelos sonhos e pesadelos, e não existe só ele como esse ser todo poderoso, pois existem mais "perpétuos" que personificam e conduzem outros eventos da vida. Não sendo somente sobre os perpétuos, a série também traz personagens que interagem com essas forças, como Johanna Constantine e Lúcifer.
Parece loucura, né? E é mesmo. Apesar de toda essa trama parecer indicar uma série de "deuses superpoderosos" cheia de embates divinos com a destruição da Terra sem pestanejo, não é isso o que acontece. Sandman é uma série de energia pesada, carregada de suspense e tensão, mesmo com a saturação de efeitos especiais muito bem feitos. Morpheus não é um super-herói, mas sim um ser com uma função e uma obrigação, e com muita responsabilidade sobre o mundo dos humanos, assim como o restante dos perpétuos. É uma série que une eventos de fantasia, investigação e uma boa dose de filosofia.
Um aspecto interessante é que cada episódio parece focar em um tema específico, como o tempo, a morte, a verdade, a justiça, encaixados dentro da história como um todo. Cenas cotidianas que poderiam ter 5 minutos de tela, como uma garçonete servindo um café numa cafeteria qualquer se transformam em 1 único episódio de quase uma hora de duração, e isso é fantástico. A riqueza de detalhes na transformação de um evento para outro é de encher os olhos, e claro que todos queremos ver como isso é concluído. O exemplo que dei pertence ao meu episódio favorito da temporada, o episódio 5, "24/7". "A Hope In Hell" também é INCRÍVEL, mas falar dele sem spoilers é praticamente impossível.
Comentando sobre a parte técnica, é aquela série onde com certeza tudo foi muito caro. Temos um elenco muito bom, trabalhando em cenas com muitos efeitos especiais, roupas lindíssimas, cenários gráficos gigantescos e tudo a que temos direito. Existe até um comentário do Gaiman sobre a renovação da série pela Netflix, que estaria aguardando a análise do desempenho da série antes de confirmar uma próxima temporada. Traduzindo: é muito cara, precisa valer a pena. Os diálogos foram feitos de uma forma instigante, onde nada é entregue de bandeja ao primeiro momento, porém é fácil reconhecer e relembrar os personagens pois são todos muito notáveis. Os destaques especiais de elenco ficam para Tom Sturridge como Morpheus, David Thewlis (sim, o Lupin de Harry Potter!) e, minha maior surpresa porém já amada pelo público, Gwendoline Christie como Lúcifer, um dos melhores e mais curioso personagens da temporada. Cada segundo desse personagem em cena conta.
Como tudo na vida, Sandman não é só flores. A partir do episódio 7 as coisas perdem o ritmo. Mais de um amigo meu revelou estar parado entre o episódio 7-8, pois seu núcleo novo não engata. É como se, apesar de cada episódio ter um tema, existissem grupos de episódios com alguns núcleos, que representam as histórias contidas nos volumes de Sandman. Realmente, fica mais arrastado para o final, mas não tira a graça de todo o andamento da série. Pra melhorar, a série apresenta mais alguns perpétuos só pra dar o gosto de "quero mais" sem aprofundar muito, prontinha para a segunda temporada (só falta o orçamento).
Não dá pra ir muito além do que eu já escrevi para justificar o porquê de assistir Sandman, pois parte de sua magia está em descobrir esse universo novo e cheio de personagens únicos. Não adianta assistir com a expectativa de ser uma série cheia de combates físicos ou piadinhas (né Marvel), porque não é isso. Sandman é sobre refletir como a humanidade reagiria se pudesse ter contato com a personificação de alguns de seus maiores mistérios. Essa primeira temporada traz uma boa apresentação dos personagens e deixa um gostinho para uma próxima, como deve ser. É satisfatório assistir esses eventos em tela, e em como os humanos e esses seres extraordinários se transformam pelas suas vontades e obrigações. Se sonhos tivessem sentimentos, eles gostariam de ser pesadelos? E o inverso? E se você quisesse viver em um sonho, ou talvez um sonho viver entre nós.. Sandman traz todas essas reflexões e, mais do que uma série visual, tenta pesar a importância delas no combustível da vida.
Ótima temporada, torcendo para que não seja um pesadelo no futuro, mas se virar.. que seja feito com qualidade!
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