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LUZ, CÂMERA, OSSOS - AVATAR: O CAMINHO DA ÁGUA SEGUE SUA GERAÇÃO DE TELESPECTADORES VISUAIS (E SÓ)

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O novo filme de James Cameron, Avatar: O Caminho da Água, sequência do marco visual Avatar, de 2009, segue a reputação de seu antecessor, para o bem e para o mal.


Para qualquer um que ainda tenha dúvidas: Sim, "Avatar 2" demorou mas está entre nós e é, visualmente, impecável. É a melhor experiência que já tive com filmes em 3D. Não houve dor de cabeça, náusea, ou qualquer sintoma maluco proveniente de um 3D mentiroso. Aqui o espetáculo gráfico é real. Você consegue enxergar todas as camadas devido às técnicas de gravação malucas criadas por Cameron. Quer ter uma baita experiência visual no cinema? Esse filme é brilhante!


As novas criaturas apresentadas são fantásticas! O povo do clã Metkayina é anatomicamente diferente dos Na'vi apresentados, adequados ao ambiente em que estão, um ambiente aquático riquíssimo em detalhes e novos lugares para exploração! Dos animais à flora, tudo é muito atraente. As cenas debaixo da água são realmente incomparáveis. Mesmo no silêncio da ausência de falas, o filme fala muito por si em demonstrar tanta beleza em tela.


Infelizmente, são raros os casos em que imagem impecável e história impecável se cruzam. Existem muitas variáveis para que isso funcione, e quanto mais ambiciosa a ideia, maior a régua, ainda mais tratando-se da sequência de um filme que impactou o cinema de uma geração. Não, a sequência de Avatar não é perfeita e está longe disso.


Acredito que o que faz as pessoas amarem universos da fantasia são dois fatores: identificação, com aqueles personagens e situação, mesmo que por analogias e de forma breve; e a paixão pelas regras daquele mundo. Sim, todo mundo, fantasioso ou não, é composto de regras, e fatores importantes que vão se repetindo até se tornarem rituais, culturas e por aí vai. Amamos que os bruxos de Harry Potter utilizem varinhas mágicas, por exemplo, e ignoramos o fator "ar respirável" com os personagens de Star Wars e isso se torna um marco em várias dimensões nesse "mundo".


Avatar: O Caminho da Água quebra diversas regras que propõe no primeiro longa. Primeiro, a causa de todos os conflitos da história inicial, o minério fictício unobtanium, é simplesmente esquecido, como se nunca houvesse existido. Um minério tão importante que gerou uma guerra que dizimou vários membros da população Na'vi e humana... simplesmente esquecido. Aqui temos novas ambições de recursos não apresentados antes, que agora são os "novos super importantes", e mesmo assim parecem estar lá só pra fazer uma ponta, porque a motivação antagônica é outra, já chegaremos lá.


Outra regra tão protegida no primeiro longa era a língua, sendo um fator que tornava tudo mais realista e uma barreira real entre os povos. Os Na'vi não sabem nenhuma língua humana, e vice-versa, desde que sejam ensinados. Nesse filme, é raro ter algum momento da língua mãe dos Na'vi. O novo clã oceânico apresentado, os Metkayina, em nenhum momento possuem essa limitação. Mais uma regra instituída em um longa sem peso no outro. O "vilão" até demonstra um pouco dessa limitação, mas logo é descartada e ao final nem lembramos que ela existiu.


O último evento que faz desacreditar dos tais "eventos importantes" do primeiro filme é a invasão humana. Sim, aqui Pandora é invadida novamente pelos humanos, mas dessa vez não há resistência, só fuga. Onde estão os guerreiros? Era tão fundamental que houvesse um Toruk Makto para essa vitória, que aqui é como se esses eventos nunca houvessem ocorrido. Pandora não é fiel nem consigo mesma. A desculpa para conhecer outros territórios, ao meu ver, foi muito fraca. Jake Sully e sua família simplesmente abandonam o povo e vão buscar apoio, tornando a invasão um "assunto pessoal".


Temos também novos personagens, muitos novos personagens! Uma prole que une filhos biológicos e adotivos, o que é um ponto positivo e interessante. O problema do número de personagens novos é que acabamos deixando de lado nossos protagonistas. Jake Sully não está na tela em maior parte do tempo, e quando está lá, é pra ser "o pai protetor". Assim como, e infelizmente, acontece com Neytiri, a personagem incrível de Zoë Saldaña aparece muito menos do que no primeiro, e quando aparece está chorando ou gritando de raiva. Os personagens que amamos do primeiro filme foram substituídos por um grupo considerável de adolescentes com embates próprios, mas até meio infantis em alguns momentos. Temos conflitos que vão de auto aceitação até longas conversas com um bicho similar a uma baleia. Não, não é convincente.


Com exceção das origens interessantes de alguns deles, ainda não sei se acrescentar tantos novos personagens foi uma boa ideia. Uma das personagens com maior expectativa, Ronal, interpretada por Kate Winslet, poderia ter sido interpretada por qualquer atriz. Não há profundidade, não há nada.


O Caminho da Água herdou um problemão do primeiro filme, mas de forma proposital! Seu vilão tem ambições tão vazias quanto no primeiro, mas aqui a justificativa é ainda mais vaga: a boa e velha vingança. É tão limitado que tem cenas que chegam a ser engraçadas. Até dá vontade de culpar a atuação de Stephen Lang, mas não, o roteiro o transformou num elemento sem graça desde o início.


Se os personagens não ajudam, o ambiente não é fiel com as próprias regras e a história tem furos... só nos resta a viagem! Sim, vale muito a pena conferir o filme nos cinemas, porque é esplendoroso ver em tela aquelas cenas. Eu sai da sessão satisfeito e agraciado com tantos detalhes feitos com excelência, mas justamente por isso gostaria que o marketing de James Cameron se concretizasse e tivessem dedicado um pouco mais de carinho na história.


Esse lance de não arriscar muito ou não ir muito além por causa das sequências pra mim só tem um significado: falta de história. Conter roteiro pra sustentar próximos filmes é ridículo, é pura falta de imaginação. E não há problema em ter falta de imaginação, e para isso basta admitir. Sim, o roteiro foi refeito milhares de vezes, e isso foi inclusive um dos motivos da demora do filme, mas, tentar tornar algo "universal demais" é a receita para algo sem gosto. É preciso contraste, conflito, e não simplesmente preencher um capítulo. Antes um filme bem feito do que 4 sequências água com açúcar (isso pra mim, mas não para a Disney, né?).


Os números em bilheteria estão aí pra não mentir, mas não é de hoje que isso não significa qualidade. Vá ao cinema, veja em 3D e na melhor tela que conseguir. Terá tido uma maravilhosa experiência visual, mas não mental, isso é um problema pra você? Bom filme!



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