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LUZ, CÂMERA, OSSOS - A BALEIA: MERGULHANDO FUNDO NAS DORES DA CULPA

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Aronofsky e Fraser se juntam para trazer drama profundo sobre a culpa e a luta pela sinceridade. Confesso que não via nenhum trabalho de Brander Fraser desde Viagem Ao Centro da Terra, de 2008, e nem sei se o ator lançou algo depois disso. Com depressão intensa e episódios posteriormente declarados de assédio, o ator marca seu retorno triunfal no novo longa do polêmico e controverso diretor Aronofsky.


Por outro lado, minha última memória de Aronofsky está bem fresca e é incrível: Mãe! de 20217, um filme divisor de opiniões, pra mim um filmaço e um dos meus prediletos. O diretor tem seu nome em grandes outros títulos, como Cisne Negro (2010) e Réquiem para um Sonho (2000), mas aqui faz seu retorno com um filme mais pé no chão, mas nem por isso deixou seu prazer por dramas psicológicos. A Baleia é um filme tão pesado quanto o animal que caracteriza o título, e nada imerso no arrependimento de seus personagens.


Diferente dos longas atuais, não espere aqui uma grandiosidade visual. Não é um filme que vai te prender por cenários e figurinos impecáveis, mas sim pela sua história perturbadora de tão possível. O filme foi baseado na peça homônima de Samuel D. Hunter, e conta com um roteiro muito bem construído, realmente parecendo uma peça em tela. Há praticamente somente 1 cenário onde o filme ocorre, e isso ajuda a aumentar ainda mais a tensão que se constrói.


É difícil falar de A Baleia sem acabar vazando alguma informação. O que se pode dizer é que nosso personagem principal, Charlie, está em busca de reconexão com sua filha, e com isso encarando fantasmas do passado, mas também os demônios do presente. A atuação de Branden Fraser, junto a uma caracterização fenomenal, tem o máximo de seu potencial. Conheci o ator em A Múmia, de 1999, um filmaço de ação e aventura, mas aqui sim é onde Fraser se revela como um mega ator. A interpretação é incrível, e muito emocionante. O restante do elenco não fica pra trás, sua filha interpretada por Sadie Sink é odiosa em todos os sentidos (menos para o protagonista), um dos personagens que mais me incomodou no cinema nos últimos tempos, e isso é resultado de uma atuação brilhante.


O trabalho sonoro do longa é incrível, fornece vários sons que incrementam o peso das cenas, seja somente com passos pesados, ou som muito forte da chuva, assim como sons de ondas do mar. Sabemos que a sonoplastia mandou muito bem quando ela ultrapassa o limite de ser ignorada, aqui ficou nota 10. A trilha contida também é utilizada nos momentos certos.


O real brilho está na história, e não vou contar nada que comprometa a experiência. O que se pode dizer é que A Baleia é um filme que, tanto pelo título quanto pelas imagens, pode vender que o filme seja um tipo de interpretação dramática de "quilos mortais", e é muito mais do que isso. A obesidade é somente um detalhe da montanha de fatores que fizeram a vida de Charlie ser o que é nesse momento. O filme explora diversos temas como vícios, relacionamento amoroso, paternidade, sexualidade, arrependimentos, perseguição, religião, e claro, propósito. Se formos julgar obesidade como a doença principal do filme, eu diria que todos ali estão muito doentes. A comida é a última coisa que você vai prestar atenção aqui. Os personagens desse filme possuem vários ângulos e muitas dores não tratadas, cada um atirando no outro em busca de saídas, mas com uma grande dificuldade em serem verdadeiros.


A maior ferida explorada pelo protagonista é justamente que os outros consigam admitir suas verdades, que consigam ser honestos com o mundo e consigo mesmos, e que isso não necessariamente é algo bonito de se ver. A repulsa das pessoas muitas vezes existirá em torno de coisas reais, pois não conseguem entender como aquilo se forma, e o filme retrata isso em diversos exemplos. Portanto, o longa tem muitas mensagens, mas acredito que a principal delas seja como conseguimos sentir repulsa ou ódio pelo próximo se estamos tão ou mais sujos por dentro. E o pior, ninguém consegue expor essa sujeira.


Charlie luta até o final pelo que acredita, mesmo que isso o consuma e leve tudo que ele tem, e será o mártir dessa devoção. Enquanto todos olham para Charlie e enxergam um problema, ele enxerga somente um resultado e como pode lidar com os últimos capítulos dessa história. Algumas escolhas podem ser muito dolorosas, mas isso é amenizado quando são honestas.


O longa possui um tocar muito individual, exige muita empatia ou uma relação própria com os temas. Na minha sessão, vi pessoas rindo em algumas partes ou até bocejando. Já eu, nos últimos 20 minutos só conseguia chorar e pensar que sabia um pouco sobre como aquele personagem se sentia. A Baleia não é mais uma obra processada e embalada para algo previsível, e por isso o gosto pode ser bem ruim pro paladar desconhecido. Aronofsky novamente consegue se colocar numa direção cheia de visão que constrói a tensão ao longo do filme e a deixa explodir no final. O filme não entrega tudo de bandeja, desde seu início os personagens vão aparecendo de forma solta, e depois vão se ligando pelo desenrolar da história.


A Baleia é o reerguer perfeito para Fraser, e acredito que isso tenha acontecido por ter conseguido levar suas dores para a telona. A empatia do ator pelo que ele enxerga de si mesmo no personagem é uma das expressões mais puras. Em um mundo visual, quanto mais puro e honesto você for, mais sujeira e feridas demonstrará, em outras linhas, mais humano parecerá. E o ponto é.. você enxerga a beleza disso?




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