top of page

LUZ, CÂMERA, OSSOS - PINÓQUIO DE 2022: NECESSÁRIO COLOCAR O ANO E NÃO CONFUNDIR FIASCO COM CLÁSSICO

blogfossilretro

Clássico é clássico. Considero a animação Pinóquio de 1940 um dos filmes mais influentes de sua época, e com muita razão! A animação é belíssima e ao mesmo tempo pesada, com temas fortes e que consagrou o personagem que nasceu no livro de Carlo Collodi. Quem nunca temeu a famosa expressão quando criança "Se você mentir, seu nariz vai crescer"? É claro, o Pinóquio da Disney está longe de ser o hiper travesso Pinóquio de Collodi, mas cumpre sua função: Pinóquio não é um humano, mas ao mesmo tempo é uma criança, e está aprendendo a ser um "bom menino".

Infelizmente, o Pinóquio de 2022 não tem nenhuma dessas qualidades. O novo live action talvez tenha conseguido ser o pior live action da Disney até agora, o que é surpreendente considerando seu diretor (Robert Zemeckis, sim, De Volta pro Futuro!!!), a grana de efeitos especiais, o elenco nada barato (Tom Hanks, né meus amigos), e uma história tão famosa e tão bem aceita que seria impossível estragar. Enfim, esse filme prova que eu estou errado. Sempre é possível detonar uma obra consagrada.


A estrutura principal da história não foi muito alterada, mas teve vários acréscimos, que não pioram, mas não acrescentam nada. As pequenas alterações de trajeto derrapam, com uma pequena exceção.

A fada, um personagem crucial na história por prover a "magia da vida" ao boneco aparece muito menos do que deveria, e sua ausência perde muito sentido. Ela já aparece pouco na animação, e aqui menos ainda, deixando várias lacunas que somente ela poderia preencher. Por ser a personificação do "milagre" e das chances, tanto para Gepeto quanto para Pinóquio, sua ausência é sinônimo de falta de justificativa dos fenômenos do filme. Nem Tom Hanks salva essa versão deprimida de Gepeto, o que tenta ser um drama bem construído resulta só em uma demora em engatar a história. O grilo falante é sem graça. As vezes em que tenta um tom humorístico, falha miseravelmente. E claro, a estrela principal, Pinóquio: o boneco é bem recriado digitalmente, mas não tem o carisma do Pinóquio da animação, provavelmente pelo mesmo problema encontrado no live action de O Rei Leão no embate entre emoção e o tom realístico. Quando vemos um Pinóquio mais realista, começamos a pensar em coisas que não pensaríamos no desenho, como.. Por que um boneco de madeira pisca? Se ele é uma "criança", por que é tão menor que as outras crianças? Trazer realismo para um filme mágico é sempre um risco por desviar a atenção.


Meu personagem preferido do longa é, de longe, João Honesto, interpretado por Keegan-Michael Key. É um personagem que mantém o que é proposto pra ele, e é muito bem executado. Uma alteração bem vinda foi o enfoque visual na Ilha dos Prazeres. É fenomenal entrar naquele mundo como um parque de diversões, riquíssimo em detalhes. A passagem dos relógios de Gepeto também é interessante, pois acaba incluindo referências a clássicos da Disney, mesmo sem a música clássica da animação.


Quanto ao aspecto técnico, visualmente sempre é deslumbrante, mas aqui existe um exagero: muito CGI em momentos ridiculamente desnecessários. Na Ilha dos Prazeres, praticamente tudo é CGI. Até os objetos que são quebrados pelas crianças são CGI. Chega a ser absurda a falta de naturalidade do filme. As poucas músicas estão longe de ser memoráveis, sendo absurdamente fracas. Com exceção de Keegan-Michael Key, não há atuação memorável. Assisti dublado (queria tentar assistir novamente legendado, mas não vai rolar), e achei a dublagem sem emoção, principalmente pela Fada, o Grilo, e Pinóquio em si.


O mais crítico em Pinóquio está no seu significado. Devido a sua história muito famosa, Pinóquio sempre foi associado à mentira. Isso não é só pela Disney, mas pela cultura pop em si, Pinóquio é associado a uma criança travessa e, quase sempre, mentirosa. E nisso, o crescimento do nariz durante as mentiras é de lei. Infelizmente, o politicamente correto atingiu o live action e o crescimento do nariz ocorre apenas uma única e contida vez. Assim como muitas outras coisas foram editadas para um tom mais soft: não há bebidas, cigarros, quase nada de agressividade, nenhuma bronca dada pelo grilo, nada. Esse último talvez fosse um dos mais importantes, já que o grilo seria a consciência de Pinóquio. Teoricamente, não há necessidade de consciência quando não há quase nada errado. Não há discussão moral. Não há textura, não há contraste, é uma massa feita pra agradar pelo visual e não fazer ninguém pensar.


O personagem que antes era utilizado quase como um "exemplo" pra lições da vida e que, ao ser obediente e se arrepender dos erros, evoluir e se tornar um "menino de verdade" aqui se torna a consequência da falta de todos esses fatores: um boneco de madeira. O pior erro de Pinóquio é não ter sabor nenhum, ensinamento nenhum, e portanto, quase nada de mágico. Engana-se quem visualiza os clássicos da Disney apenas como uma apelação de entretenimento, muitos daqueles filmes tinham mensagens que ensinavam lições morais às crianças, até mesmo coisas do dia a dia, como a cena para "aprender a lavar as mãos" de Branca de Neve. Obviamente, a Disney não é uma escola, e tem seus erros também. O clássico de 1940 tem um impacto muito maior justamente pela sensação agridoce de um misto de culpa e necessidade de visualizar uma evolução, um aprendizado após tantos erros. Pinóquio de 2022 não tem alma. Fraquíssimo.



15 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page