Leonardo Da Vinci: Em quê esse nome te faz pensar? Mona Lisa? A Santa Ceia? O Homem Vitruviano? Walter Isaacson, um dos jornalistas, escritores e biógrafos mais famosos escreveu em 2017 uma desafiadora biografia para esse grande curioso. Se você ler a obra, tenho certeza que verá que chama-lo de curioso ao invés de gênio não diminuirá em nada seus feitos (e até os não feitos) e os exemplos de sua busca por conhecimento.
Aqui meu objetivo não é fazer um resumo do livro, mas sim uma reflexão sobre ele. Quando comprei esse livro, em 2018, por pura curiosidade, não imaginava o tanto de fatores incríveis que admiraria em Leonardo e que desconhecia, e de como sua história diz muito sobre os resultados que serão criados pelo que a sociedade valoriza hoje, não que na época a sociedade de Leonardo desse valor ao que ele se dedicou.
Geometria, voo dos pássaros, perspectiva e ótica, crescimento de fetos, língua do pica pau, movimento dos músculos labiais humanos, ideal de beleza e harmonia das proporções, estruturas hidráulicas e suas dinâmicas, botânica, máquinas de guerra, instrumentos musicais, arquitetura e engenharia, cidades autossuficientes, pintura em diferentes superfícies, esculturas, movimento dos cavalos. Esses são só ALGUNS dos temas que fizeram parte dos estudos de Leonardo Da Vinci. Com certeza você lembra dele por alguma obra hiper famosa, como Mona Lisa, um dos quadros mais famosos (senão o mais famoso) da história. Porém, saiba que sem os estudos anatômicos feitos por Leonardo, com certeza muita coisa na medicina poderia estar atrasada. Porém quero jogar luz ao lado menos "divino" que associamos a gênios, ao seu lado humano.
Muito do que Leonardo Da Vinci fez não saiu das páginas, e algumas coisas nem sabíamos se dariam certo. Sim. Leonardo não finalizou DIVERSAS obras de arte, não juntou e lançou diversos cadernos riquíssimos em conhecimento não encontrado em outras fontes na sua época, não materializou praticamente nenhuma máquina de guerra ou invenções malucas prometidas aos seus patronos, e infringiu leis e normas da sua época, como a "prática homossexual" e a dissecação de cadáveres. Além disso tudo, Leonardo foi um rei da procrastinação (declaradamente, inclusive defendendo o ócio criativo), não tinha uma relação maravilhosa com seu pai e seus meios-irmãos, trabalhou para alguns tiranos (e pedia emprego a eles), como César Bórgia, e pedia emprego a eles prometendo máquinas que dizimariam exércitos com BASTANTE violência envolvida. Enfim, já dá pra ver que ele não foi esse deus que te venderam quando você estudou algo sobre ele, provavelmente na matéria de artes. Mas.. talvez a aproximação dele como humano faça você acha-lo muito mais parecido com você.
Assim como pude ler na biografia de Steve Jobs, Leonardo Da Vinci foi um homem que cometeu erros e que estava longe de ser um "ideal", mas estava muito a frente de seu tempo num superpoder quase inexistente hoje: a curiosidade. Por diversas vezes em seus cadernos trouxe que esse era seu principal combustível. Leonardo Da Vinci negou diversos trabalhos com altas promessas de remuneração para fazer o que era interessante pra ele mesmo, e com as consequências econômicas devidas. Assim como se dedicou a estudar as estruturas humanas, os nervos, as batidas do coração, também se dedicou a estudar como funcionava a língua do pica pau.
Em um tempo em que o mundo corre em alta velocidade e alta pressão para resultados imediatos e respostas imediatas, será que estamos dando espaço para que outros "Leonardos" apareçam? Dá pra ser curioso hoje?
Fui (e sou) frequentemente julgado pela minha carreira profissional. Os rumos que fiz dentro dela foram, em parte, por erros de estratégia, mas em parte também porque estava em busca de mim mesmo. Se voltarmos ao século XV, onde Leonardo nasceu, a multidisciplinaridade era frequentemente encontrada por pensadores, filósofos, e valorizadas até certo ponto. Hoje dizem valorizar isso, mas a verdade é que os especialistas são bem mais aceitos. Quem sou eu pra dizer que a dinâmica do mercado de trabalho está errada, mas é claro que cada vez mais estamos buscando por engrenagens e menos por cabeças pensantes. Leonardo Da Vinci conseguia unir informações, entre arte e ciência, e chegar a conclusões que só seriam comprovadas por método científico anos mais tarde. Sua obra, provavelmente, mais famosa, Mona Lisa, só teve o efeito que possui porque é um exemplo fenomenal no uso de perspectiva, ótica e estudo da anatomia facial humana.
O prazer pelo conhecimento está em falta, e é até injusto culpar as pessoas. O mundo não quer pessoas que busquem conhecimento, mas sim que continuem fazendo a engrenagem girar. Buscar conhecimento é caro, e a porcentagem de pessoas que levarão isso a algum lugar é escasso. Quem vai pagar pra ver?
O que eu posso recomendar, depois de me inspirar lendo esse livro, é que você utilize seu recurso mais precioso pra investir nesse impacto, afinal você faz parte do mundo. O final do livro traz uma série de lições, de forma primorosa, do que podemos aprender com Leonardo Da Vinci. Eu trouxe 5 delas que considerei mais relevantes (não me processa não, Walter, estou citando com amor):
Seja curioso, incansavelmente curioso. - Dá pra ver que curiosidade é a chave de tudo, né? Inclusive, Einstein também a utilizava como combustível;
Observe. - Observar já traz muito sobre muitas coisas, mas além de olhar por fora você deve buscar olhar o "invisível";
Evite fechar horizontes. - Leonardo cruzava informações da arte com a ciência e com outros temas para conseguir pensar coisas incríveis. Sua curiosidade pelos movimentos da água se refletiam no desenho de cachos de cabelos e na criação de máquinas hidráulicas. Não se limite (mesmo que o mundo queira te limitar);
Crie para você, não só para os patronos. - A existência desse blog se baseia nisso. Para viver feliz, faça o que te deixa feliz;
Esteja aberto ao mistério. - Essa aventura é o que me traz mais significado.
Depois de ler esse livro, fiquei muito mais feliz em ser quem eu sou, porque no final.. não existe fórmula pra ser um gênio, basta ser considerado louco por todos que não são. Geralmente os gênios são os deslocados que tentam entender como as coisas funcionam. Eu não quero ser um gênio, mas se eu conseguir ser eu mesmo já terei uma vida com mais significado.
Walter Isaacson é brilhante, o livro é lindamente organizado com capítulos focando na vida e outros nas obras, rico em imagens super bacanas. Vale MUITO a pena essa obra.
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