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ESCRITA RUPESTRE - HQ PACIÊNCIA: O AMOR ETERNO INCLUI O PASSADO?

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Sem pretensão e com sinopse rasa, "Paciência" inicia sem muitos detalhes mastigados. Não há preocupação com apresentação de personagens, contextos, descrições, somente eventos. E isso é incrível. O clima de surpresa perdura a HQ inteira, contrariando grande parte do entretenimento atual onde tudo já é mastigado ao público que somente consagra o esperado.


Pra mim, foi com certeza uma grata surpresa, mesmo que depois tenha me sentido um completo mal informado por não conhecer o trabalho premiado de Daniel Clowes. Não li nenhuma das suas obras anteriores, nem mesmo o famoso "Ghost World", e posso dizer que acredito que ficarei mal acostumado, pois pelas poucas resenhas sobre seu trabalho que li, as pessoas adoram Paciência e colocam no topo de elogios.


Para quem nunca tinha ouvido falar, como eu, é difícil explicar a história sem entregar nada. Resumidamente, e pra atiçar sua curiosidade, Paciência é a esposa de Jack, e juntos formam um casal de ares deprimidos, mas que estão prestes a iniciar uma nova etapa da vida, e naquele misto de nervosismo e felicidade... uma tragédia acontece. Após muito tempo de ódio e reflexão, Jack descobre uma maneira de viajar pelo tempo, literalmente, em busca de inúmeras tentativas de alterar o futuro previamente conhecido. Chega, o resto você vai ter que ler.


Daniel Clowes traz uma história de ficção científica, com uma boa dose de drama, mas foca em algo mais simples e um catalisador da história humana: o amor. O clima da história é sempre pessimista, com personagens que variam entre entediados e enraivecidos, mas Jack é o personagem que tentará literalmente tudo pra mudar a história.


Mesmo sem as descrições já comentadas, o que faz muito o meu gosto, a história desenrola formidavelmente e de maneira fluída, sendo difícil parar a vontade de saber mais sobre o passado de Jack, de Paciência e do futuro dos dois juntos. Muitos fantasmas são encontrados na vida dos dois e o mais incrível é ver que todos os segredos não contados um para o outro só reforçam a ideia de que os sacrifícios de Jack valeram a pena.


O estilo de arte de Paciência, também criada por Daniel Clowes, é uma mistura de rostos estáticos sem emoção até bizarrices abstratas, e é um dos pontos chave da obra, que junto ao turbilhão de cores, traz os contrastes entre o mundo deprimido dos humanos e as emoções à flor da pele. A paleta de cores psicodélicas e o estilo de desenho quase lembrando o Pop Art dos anos 50 dão muita classe.


É difícil não elogiar Paciência, pois existe um grande equilíbrio no suspense que contribui para que compremos a história, pois nada é comprometido e nem fruto de expectativas. Une partes lindas e sentimentais a cenas pesadas (essa é uma HQ para adultos), e o final é aquela cereja do bolo. Em compensação, o final deixa aquele gostinho de vício que possuo com os filmes do Nolan: agora que já sei como termina, só quero começar de novo e unir todos os pedaços mais uma vez. Como disse anteriormente, pra mim a experiência foi uma grata surpresa, não vou esquecer Daniel Clowes e já quero ler mais obras dele.


Paciência nos mostra que saber sobre o passado de alguém que amamos só faz com que fiquemos mais obsessivos pelo futuro desse mesmo alguém, mesmo que isso nos ensine muito que ainda não sabíamos sobre nós mesmos. Excelente!


OBS: Um agradecimento enorme para duas amigas especiais, Rafaela e Daniela, que me presentearam com essa HQ aos meus 25 anos. Beijos fossilizados!




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