Não, esse não é um artigo sobre normas gramaticais. Se alguma pesquisa do navegador de busca te mandou pra cá com essa dúvida, sob é utilizado pra algo que está "embaixo de" e sobre "em cima de" ou "a respeito de". No final, esse texto acaba sendo sobre isso (a respeito disso, sacas?), você acredita que sua vida está sob controle? E seus relacionamentos? E sua carreira?
Vou dar um exemplo de algo que me ocorreu: imaginem o cenário de uma pessoa que marcou uma prova da faculdade para um sábado às 8h da manhã em outra cidade. Pra ficar mais interessante, a semana inteira foi de reforma aqui em casa e na sexta-feira anterior à prova tudo está um caos. Certo. Basta comprar as passagens para o bilhete por algum app de mobilidade no dia anterior; calcular o tempo da rota pra saber a hora de acordar; quando terminar de arrumar as coisas parcialmente e de forma corrida, estudar muito, mas focar principalmente nos temas mais complexos, porque a prova é cheia de pegadinhas; levar caneta e lápis, porque tem boatos de que a prova, supostamente digital, será física dessa vez; tá bom, né? Que comecem os jogos!
Muito bem. 05h30 da manhã o despertador tocou e levantei. Na noite anterior, tentei várias vezes mas não consegui comprar as passagens pelo app de mobilidade, tudo bem, tentando novamente de manhã. Nada. Deve ser muito cedo, vou tentar depois das 6h, bora fazer o café, me arrumar e por aí vai. Tentando novamente às 6h10, considerando que meu horário planejado para a saída é 6h15. Nada. E pior, nem o app do banco está logando. Parece inacreditável, mas uma coisa tão simples como "comprar passagens pelo app para evitar uma fila na estação" não funcionou. Não foi falta de internet, nem de dinheiro, foi só a tecnologia se rebelando como nos filmes. Resultado: saí 15 minutos atrasado, o que pode ser muito quando se trata de transporte público.
Passagens físicas compradas, pegando o trem. Sábado é mais lento mesmo, ou seja, a viagem planejada para 40 minutos não necessariamente teve esse tempo. Chegando na faculdade faltando 15 minutos para o horário, vamos lá para a tal "prova física" que vai demandar muita gestão do tempo. Errou de novo, foi digital, preocupação à toa. Não vai dar pra fugir do conteúdo da prova, né? Modo "puxando respostas decoradas" do cérebro ligado e.. adivinha? Caíram questões básicas do conteúdo. Será que era necessário ter corrido tanto com a arrumação pós-reforma pra uma intensa revisão de conteúdo?
Tudo isso foi real, mas é uma situação minúscula perto de várias. Estou numa fase de busca de emprego, e só quem já passou por isso sabe a sensação da dúvida ao ter passado por uma entrevista e aguardar pela resposta. Em um momento pensamos "fui demais, essa vaga já é minha", e 1 minuto depois "eu não deveria ter dito tal coisa" ou "o(a) recrutador(a) não curtiu meu perfil, tenho certeza". E o pior é que tudo isso acontece quando você está concorrendo àquela vaga dos sonhos! Será? Será que temos mesmo certeza de alguma coisa? As coisas estão, realmente, sob controle?
Esses pequenos acontecimentos cotidianos que podem se tornar monstros na nossa rotina sempre me fazem refletir muito. Voltando da prova, no trem lembrei de algo óbvio, mas valioso: não, não temos controle de tudo. Por mais que a gente estude muito, planeje passos, ensaie para as entrevistas ou prepare o despertador, tudo pode mudar. E aí? Deixamos a vida nos levar?
Existe uma margem perigosa entre o alívio de pensar que nem tudo que acontece é nossa responsabilidade e não agir. Não agir significaria, por exemplo, não revisar nada para a prova, ou até mesmo não estudar nada. Não agir é achar que, pelo fato de existir imprevisibilidade, nem o previsível deve ser feito.
A questão é que o oposto também é um grande problema. Acreditar que tudo que acontece na sua vida depende de você pode te trazer um grande e frequente sentimento de culpa. Um peso incalculável. O mesmo acontece com a atribuição aos pais da responsabilidade das escolhas dos filhos quando já são adultos (ou não). Reconhecer que nós como humanos não conseguimos ser responsáveis por todos os acontecimentos é uma dádiva. Pra quem possui fé religiosa, como eu, talvez o alívio maior ainda seja acreditar que ao menos parte do destino dessas ações está nas mãos de um ser infinitamente mais conhecedor do que nós, meros mortais.
Tenho aprendido muito sobre isso com minha vivência. Por mais que eu entregue tudo de mim, isso não significa que terei total controle sobre como as coisas acontecem. Isso pode ser aplicado em qualquer âmbito da vida. Eu sou uma pequena parte de um grande processo que envolve outras pessoas e acontecimentos. Um grande exemplo disso foi a pandemia que acabou de passar por nós e continua deixando seus impactos.
E a solução é.. não fazer nada? Não ter expectativas?
Expectativas são importantes porque são os desejos pra alcançar os objetivos que nos movem, que nos fazem querer levantar todos os dias pra lutar. Porém, não podemos nos tornar reféns da expectativa. Um objetivo pode ser atingido de muitas formas, e muitas vezes não é pelo caminho mais óbvio.
É super importante planejar, dar o máximo de si para que as coisas funcionem, mas principalmente saber que elas podem não funcionar. Você pode estar errado. Você pode estar fazendo do jeito errado. Você pode estar certo, mas ter escolhido um caminho que está sendo impedido por outro fator que não é você.
Tão importante quanto se preparar ou planejar, é importante saber lidar com a frustração de uma imprevisibilidade, ter o controle sobre as nossas emoções. Isso pode ter a dimensão de acordar atrasado com o despertador que não tocou até uma viagem cancelada ou uma demissão inesperada. Como lidamos com essas situações é fundamental pra que encaremos como humanos (sim, vale chorar, ficar bravo/triste, mas não vale descontar nas pessoas) e criemos novas expectativas.
Na minha atual busca por emprego tenho entendido e tentado praticar isso. Mesmo levando alguns nãos de "oportunidades perfeitas", acabam surgindo outras oportunidades, se não parecidas, melhores! Talvez algumas coisas não aconteçam da forma que prevemos porque não seja pra ser assim. Se, assim como eu, você acredita em algo maior, a chance disso estar acontecendo é grande. Um "não" de hoje poderia significar uma experiência frustrante se tivesse sido um "sim". É difícil afirmar isso com certeza, pois aqui estamos no campo das ideias, mas não podemos dizer com certeza que essa possibilidade não existe.
O ponto principal que tenho aprendido é: faça seu melhor sempre, mas não tenha a ilusão de que tudo vai acontecer como você espera. E se não acontecer do jeito que espera, busque capacitação pra lidar com isso. Lidou com isso? Levante e tente de novo. E de novo. E de novo. E de novo. E de novo. Algo não ter ocorrido como esperamos não significa necessariamente que deu errado. É uma chance pra olharmos todas as alternativas,sermos criativos e enfrentarmos isso com muito foco. Disso nasce a inovação, ótimas ideias e vamos melhorando como pessoas.
Aceitar a imprevisibilidade da vida é também ter um outro ponto de vista: a vida reúne muitas surpresas. Você não nasceu com manual pra saber lidar com todas elas, mas elas virão. Tire o melhor dessas situações e transforme isso em aprendizado para você e pra quem você quiser compartilhar. Faça história! Quantas pessoas poderiam se inspirar pelas barreiras que você passou?
Não, não sou o dono da verdade, e acredito que estou sob ("embaixo de..", rsrs) o controle de um ser superior que tem uma história linda pra mim. Eu quero ser o protagonista dessa história, e por isso vou me dedicar para conquistar esse espaço. Já dizia uma amada gestora que tive, "Edu, dá seus pulos e suas viradas". É sobre o meu controle de reações com relação às surpresas da vida. A imprevisibilidade é um fato, mas as escolhas são suas. Não esqueça de sempre fazer sua parte! Tudo isso é a reflexão de um homem em construção. E você? Tem tudo sob controle?
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