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CABEÇA DINOSSAURO - ARTE: DE QUEM PRA QUEM?

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Olá, meus caros organismos vivos. Essa parte do blog anda meio empoeirada, e esse final de semana vivi uma situação perfeita pra atualizar e provar que ela é bem útil! Então lá vamos nós, eu conto meu causo e espero que possa trazer algum tipo de reflexão.


Esse final de semana estive numa exposição chamada "The Art of Bansky: Without Limits". Pra quem não sabe quem é Bansky, tranquilo, eu também não sabia. Resumido por alguém que conheceu sobre o artista ontem, literalmente, Bansky é um artista que faz grafites e outras formas de arte buscando a crítica social, ao consumismo, à guerra, e outros temas relevantes. Suas artes são muito características por terem tom satírico, além de utilizar obras já prontas e temas conhecidos da cultura pop para montagens e colagens que representam críticas políticas e sociais. Apelidei ele como um "memeiro" da sua época, devido a caçoar de artes pop com tons humorísticos ou até mesmo BEM pesados. O cara ainda é bem famoso pelo seu anonimato, até hoje não há uma identificação oficial de quem é Banksy (sim, ao estilo super herói), e mesmo assim o cara atua com seus grafites super famosos nas ruas, já dirigiu um documentário indicado ao Oscar em 2011, e claro, é amado por toda a "população cult" que adora ir nessas exposições pra comprar umas camisetas e tirar fotinhas nos cenários.


Mais precisamente é sobre esse último cenário que trago minha reflexão. Um artista que pelas suas obras tem uma intenção clara de "transformar" cenas horríveis em cenas mais agradáveis, assim como as "agradáveis" em mais realistas, estar com "réplicas" das suas obras em uma exposição com ingresso de.. preparem-se: R$140 fucking lulas! Dá pra enxergar algum sentido nisso?


E na verdade.. não é tão estranho como deveria parecer (mesmo com a minha indignação).


Não é de hoje que a arte, num geral, é algo bem elitizado. Pensa aí na última exposição em que você foi. Quanto você pagou? Baseado no que foi apresentado, esse preço era justo? Lá havia uma diversidade de pessoas?


Tudo isso foi parte da minha reflexão na exposição, assim como de uma amiga que estava comigo. Desde a fila para comprar o ingresso caríssimo até a saída, dá pra notar que a arte é pra todos.. que podem consumir. E isso é um forte paradoxo, considerando que a arte desse artista é, em sua maior parte, pública.


A maior parte da exposição consistia em réplicas das obras expostas em parede, com descrições minúsculas ao lado de cada uma. Como exceções, havia dois cenários interativos, um com espelhos no chão, teto e laterais de uma sala com projeções das artes, e outra com um grande cenário de guerra (visualmente impactante) trazendo alguns grafites do artista nos destroços. Havia televisores com vídeos em lugares pouco estratégicos pra ter aquela bela aglomeração, e claro, cenários pro povo blogueirinho (olha quem fala) tirar fotos "instagramáveis". Traduzindo: grande parte da exposição poderia ter sido encontrada no google. Mas o ponto principal é.. pra quem foi feita essa exposição? Ou melhor, pra quê ela existe?


Em geral, as exposições "de arte" parecem templos sagrados em que as pessoas fazem aquela feição blazé olhando as obras, fotografando tudo, e num silêncio religioso passam por elas dizendo como aquilo é belo. Pra mim, arte tem que ser discutida, e foi o que minha amiga e eu fizemos na maior parte do tempo. E dentro disso, acabamos entendendo que todo aquele ambiente não fazia o menor sentido. Desde as pessoas grossas na fila discutindo para comprar ingressos para um outro dia na semana (fazendo a fila se alongar, com 0 empatia por quem ia ver no dia da compra), até a loja comercializando artes de um artista que critica o consumo exacerbado, tudo é um show de ilusões.


Por isso, não se iluda caro leitor. A pretensão não é trazer conhecimento, é trazer cenários para fotos. A pretensão não é trazer conscientização, é fazer impressões. A pretensão não é te fazer pensar, é fazer comprar. Quantos grafiteiros como o Banksy puderam presenciar aquela exposição? Quantas pessoas ali podem chamar aquilo de "arte", mas quando veem isso nas próprias ruas chamam de vandalismo? Os grafiteiros da minha cidade tinham conhecimento dessa exposição? Ela é importante pra eles? No final do dia, qual impacto real aquela exposição causou?


Óbvio que nem todas as exposições são assim, mas achei interessante trazer o tema pra você refletir. Hoje, dia 23/04, é o Dia Mundial do Livro. Por quê você lê? Esses livros foram feitos por quem e para quem? Você lê os livros que compra? Tudo isso não foge muito do tema. Será que estamos só sendo máquinas de consumo que não conseguem perceber que o poder da crítica está no conhecimento e no nosso cérebro?


Não sou um exemplo pra ninguém, ok? Eu dei meu dinheiro para a exposição também. E também sou consumidor. Não tem problema nenhum você comprar produtos com temas e artes do artista que gosta. Mas não é só isso! A arte tem história, mensagem, reflexões, e claro, ações pra que a gente possa aplicar no dia a dia. Caso contrário, estaremos sendo só como as pessoas que chamam a arte do Banksy de vandalismo, apontando o grafite ao invés de apontar os escombros do prédio que foi explodido por uma bomba e que matou pessoas. A arte joga luz sobre aquilo que as pessoas, muitas vezes, não querem ver. Fico feliz de ter saído de lá com essa convicção, que por mais óbvia que possa parecer, se comprovou assim que pisei naquela fila: a arte não é feita para todos, é feita para quem pode pagar. Ou melhor.. "algumas" artes que são levadas para "algumas pessoas". O preço da expressão quem dá é o mercado. É ele quem distingue a arte valiosa da não valiosa, e quem concorda com isso sou eu, você, nós. Eu hoje saio com essa missão de pensar que a arte deve ser acessível assim como aqueles que a expressa são. Eu quero ver pessoas de todas as classes lá, de todas as cores, e de idades diferentes. Hoje, algumas instituições já trazem exposições incríveis e de forma 100% gratuita ou com um preço bem acessível, como o SESC, o CCBB, o MASP, aqui em São Paulo. Se pra você o objetivo é só ir lá se fazer presente pra uma foto, tudo bem, mas faça isso sabendo que seu ato banal pode justamente ser o tema da "arte" que você tanto valoriza: a hipocrisia social.

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